Terence, seu marido há quinze anos, de vê-la para uma entrevista. Mary inicialmente havia aceitado, já que eu não era um jornalista, mas sim um escritor amador coletando informações para alguns trabalhos de faculdade e, de acordo com o plano, algumas peças da ficção.
Marcamos a entrevista para um final de semana quando eu estava em Chicago, mas no último momento Mary mudou de ideia e se trancou no quarto do casal, recusando-se a me encontrar.
Durante meia hora, fiquei acompanhado com o Terence do lado de fora, escutando e tomando notas enquanto ele tentava, inutilmente, acalmar sua mulher. As coisas que Mary dizia faziam pouco sentido, mas se encaixavam no que eu estava esperando: embora eu não pudesse vê-la, eu podia dizer a partir de sua voz que ela estava chorando, e muitas de suas objeções para conversar comigo estavam centradas em uma diatribe incoerente em seus sonhos - ou pesadelos.
Em 2005, quando eu estava no segundo ano, Smile.jpg me chamou a atenção pelo meu
interesse crescente em fenômenos da web; Mary foi a vítima mais citada do que é referido como "Smile.dog", como ficou a reputação do Smile.jpg.
O que despertou meu interesse (além dos óbvios elementos macabros da cyber-lenda e minha tendência para essas coisas) era a pura falta de informação, já que normalmente as pessoas não acreditam que isso exista e que não passam de um boato. É única porque, apesar dos fenômenos inteiros centrarem em um arquivo de imagem, esse arquivo não pode ser encontrado na internet; certamente é uma daquelas fotos manipuladas, que aparecem com maior frequência em sites como o image-board 4chan, especialmente o board /x/, focado em atividades paranormais.
Suspeita-se que sejam falsos, porque eles não têm o efeito que o Smile.jpg verdadeiro teria, ou seja, epilepsia do lobo temporal e ansiedade aguda. Essas reações no espectador é um dos motivos para a fantasmagoria do Smile.jpg ser vista como desdém, uma vez que isso seja absurdo, embora a depender de quem você perguntar, a relutância em reconhecer a existência do Smile.jpg possa envolver medo, não descrença.
Nem Smile.jpg, nem Smile.dog é mencionado em qualquer lugar na Wikipédia, embora
o site apresente artigos sobre outros, talvez shocksites mais escandalosos como gotse (hello.jpg) ou 2girls1cup; ou qualquer tentativa de criar uma página referente ao Smile.jpg seja sumariamente excluída por um dos muitos administradores da enciclopédia.
Encontros com Smile.jpg são uma lenda da internet. A história de Mary E. não é única;
existem rumores não confirmados do Smile.jpg aparecendo nos primeiros dias em grupos de discussões e até mesmo num conto persistente que, em 2002, um hacker inundou o fórum de humor e sátira Something Awful com imagens do Smile.dog, fazendo com que todos os usuários do fórum entrassem em epilepsia. Diz-se também que, em meados dos anos 90, Smile.jpg circulou em um grupo de discussões como um anexo de e-mail corrente com o assunto:
"SORRIA!! DEUS AMA VOCÊ!"
Mas, apesar da enorme exposição que golpes publicitários geraram, poucas pessoas confessaram ter qualquer experiência e nenhum vestígio de arquivos ou links foi descoberto.
Aqueles que afirmaram terem visto Smile.jpg inúmeras vezes davam a desculpa de estarem ocupados demais para salvar uma cópia da imagem em seu disco rígido.
No entanto, todas as supostas vítimas ofereceram a mesma descrição da foto: uma
criatura canina (geralmente descrita como um Husky Siberiano), iluminado pelo flash da câmera, fica em uma sala escura. O único detalhe visível no fundo é uma mão humana se estendendo na escuridão perto do lado esquerdo. A mão está vazia, mas geralmente é descrita como "acenando". Naturalmente, a maior atenção é dada ao cachorro (ou criatura canina, como algumas vítimas estão mais certas de terem visto). O focinho da besta é supostamente dividido em um largo sorriso, revelando duas fileiras de dentes brancos, fortes e de aparência humana. Esta não é, naturalmente, uma descrição dada imediatamente após ver a imagem, mas uma recordação das vítimas, que alegam ter visto a imagem infinitamente em sua mente.
Na realidade, depois de terem ataques epilépticos.
Esses relatos continuaram, muitas vezes enquanto as vítimas dormiam, resultavam em pesadelos nítidos e perturbadores. Estes podem ser tratados com medicamentos, embora em alguns casos sejam mais eficaz que outros. Mary E., eu supus, não estava usando
medicamentos.
Foi por isso que, depois da minha visita em seu apartamento em 2007, eu enviei notícia a websites, listas de discussões e newgroups voltados a folclores e lendas urbanas na esperança de encontrar o nome de uma suposta vítima de Smile.jpg que sentisse mais interessada em conversar sobre suas experiências. Por um tempo, nada aconteceu e eu finalmente esqueci sobre minhas buscas, desde que eu tinha começado o meu primeiro ano na faculdade e estava muito ocupado. No entanto, Mary entrou em contato comigo por e-mail, no começo de Março de 2008.
Para: jml@****.com
De: marye@****.net
Ass: Entrevista do último verão
Querido Senhor L.,
Estou incrivelmente desapontada sobre o meu comportamento no verão
passado, quando você veio me entrevistar. Espero que você entenda que
não era culpa sua, mas sim dos meus próprios problemas que me levaram
a agir daquela forma. Eu percebi que poderia ter lidado melhor com a
situação, no entanto, espero que me perdoe. Na época, eu estava com
medo.
Você vê, por 15 anos eu sou assombrada pelo Smile.jpg. O Smile.dog vem
a mim todas as noites, em meus sonhos. Sei que parece bobagem, mas é
verdade. Há uma qualidade inefável sobre meus sonhos, meus pesadelos,
que os torna completamente diferente de qualquer sonho real que eu já tive. Eu não posso me mover e não posso falar. Eu só posso olhar
para frente, e a única coisa em minha frente é a cena daquela imagem
horrível. Eu vejo a mão acenando, e vejo Smile.dog. Ele fala para mim.
Eu pensei por muito tempo sobre minhas opções. Eu poderia mostrá-lo a um estranho, um colega de trabalho... Eu poderia mostrá-lo para o Terence, mas a ideia me repugnava. E o que aconteceria? Bem, se Smile.dog mantivesse sua palavra, eu conseguiria dormir. No entanto,
se ele mentisse, o que eu faria? E quem iria me garantir que não aconteceria algo pior, se eu fizesse como a criatura pediu?
Então, eu não fiz nada por 15 anos, embora mantivesse o disquete
escondido entre minhas coisas. Todas as noites, durante 15 anos, Smile.dog veio para mim em meus sonhos e pediu para eu espalhar a palavra. Por 15 anos, eu estava forte, embora tenha tido momentos
difíceis. Muitos dos meus colegas vítimas do board BBS - onde encontrei Smile.jpg pela primeira vez - pararam de postar; ouvi que alguns deles cometeram suicídio. Outros permaneceram em silêncio,
simplesmente desaparecendo da web. São estes com quem eu me preocupo
mais. Eu espero sinceramente que você me perdoe, Sr. L, mas no verão
passado quando você contatou a mim e meu marido sobre a entrevista eu
estava quase perdendo a cabeça. Eu ia te dar o disquete. Eu não me preocupava se o Smile.dog estava mentindo ou não, eu só queria que acabasse. Você era um desconhecido, alguém que eu não conhecia, e eu pensei que eu não me sentiria culpada quando você levasse o disquete como parte de sua pesquisa e selasse seu destino. Mas antes que
você chegasse eu compreendi o que estava fazendo: estava planejando
arruinar a sua vida.
Eu não podia fazer isso. Estou envergonhada, Sr. L, e espero que esse
aviso possa fazê-lo desistir de encontrar Smile.dog. Com o tempo você pode encontrar alguém se não mais fraco do que eu, mais depravado,
alguém que não hesitará em seguir as ordens de Smile.dog.
Pare enquanto ainda é tempo.
Sinceramente,
Mary E.
Mais tarde naquele mesmo mês Terence me informou que sua esposa havia se matado. Enquanto limpava as várias coisas que ela havia deixado, fechando contas de email e coisas do tipo, ele encontrou a mensagem escrita acima. O homem pedia desesperadamente que eu ouvisse o aviso de sua mulher. Ele me contou que encontrou o disquete e o queimou até que se tornasse apenas um monte de plástico derretido. O que mais me intrigou, no entanto, foi ele ter dito que a pilha tomou a forma de algum
animal. Admito que me faltaram palavras. No começo achei que o casal talvez estivesse fazendo algum tipo de piada comigo. Mas uma rápida olhada nos obituários dos jornais de Chicago me provou que era verdade. Mary E. estava morta. O artigo, no entanto, não citava suicídio.
Então decidi não perseguir mais smile.dog, pelo menos por enquanto, já que meus exames de meio de ano estavam se aproximando. Mas a vida tem maneiras estranhas de nos testar.
Quase um ano depois de meu encontro com Mary E., eu recebo outro e-mail:
Para: jml@****.com
De: elzahir82@****.com
Ass: smile
Olá
Encontrei seu e-mail num fórum e seu perfil dizia que você está
interessado no Smile.dog. Eu já o vi e não é tão assustador como todos
dizem. Estou lhe enviando em anexo. Apenas espalhando a palavra.
:)
A última linha me deixou arrepiado.
Havia um arquivo em anexo: smile.jpeg. Fiquei indagando em abri-lo por algum tempo.
Certamente deveria ser um fake, e mesmo que não fosse eu ainda não estava convencido do poder da imagem. A morte de Mary E. me assustou, é verdade, mas preferi acreditar que ela tinha algum tipo de distúrbio mental. E além disso, como poderia uma simples imagem ser capaz de fazer aquilo? Que tipo de criatura seria essa capaz de levar alguém à loucura somente com o olhar?
E se tais coisas eram claramente absurdas, então por que a lenda existia?
Se eu baixasse a imagem, se a visse, e se Mary estivesse correta, se o Smile.dog viesse a mim em meus sonhos exigindo que eu espalhe a imagem, o que eu faria? Eu viveria minha vida como Mary, lutando contra o desejo de ceder até minha morte? Ou eu simplesmente espalharia a palavra, ansioso para descansar? E se eu escolhi a última rota, como eu poderia fazer isso? Quem eu carregaria por sua vez?
Se eu seguisse minha intenção anterior de escrever um pequeno artigo sobre o smile.jpg, decidi que poderia anexá-lo como evidência. E quem ler o artigo, quem se interessar, será afetado. E mesmo assumindo que o smile.jpg anexado ao email fosse genuíno, eu seria caprichoso o suficiente para me salvar dessa maneira?
Eu poderia espalhar a palavra?
Sim. Sim, eu poderia.
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