Lado B
"Não sei se esse é o lugar indicado para isto, mas liguei para todos os lados e ninguém me escuta.
Liguei para a polícia, liguei para os bombeiros, inclusive chamei ate a igreja, mas nada.
Meu nome é Boris Bilder, e faz pelo menos dois anos que estou sequestrado.
Não me lembro muito da minha vida antes deste lugar.
Só sei o que está escrito na minha ficha, e que estou em Kirlian."
BILDER ESCUTA UMA VOZ, ELE NÃO PODE FAZER NADA, APENAS ESCUTAR ELA DIZENDO: "Está Respondendo. Respondendo a luz."
"No começo senti que tinha que estar... agradecido. Porque pelo menos estava vivo.
Mas ontem a noite minha mente mudou de opinião.
Não era preciso dizer que era impossível para eu dormir. Ninguém que estivesse lúcido poderia fazê-lo com esses gritos.
Passaram os meses e a insônia se converteu em parte da minha vida. Os gritos jamais cessavam e me impediam de conciliar o sono.
Os dias eram eternos.
E as noites inacabáveis.
Em uma manhã de agosto trouxeram uma moça e a sentaram ao meu lado. Ela morreu na semana seguinte.
Nunca pude conhecer nem seu nome.
Tentei me suicidar da única maneira que podia.
Mas inclusive os poucos órgãos que funcionavam estavam contra mim."
UMA OUTRA VOZ FALAVA COM ELE AQUELA NOITE: "Bilder, temos que sair daqui."
"Eu estava ficando louco."
A VOZ FALOU NOVAMENTE: "Não, você não está ficando louco."
A PORTA DE SEU QUARTO ENTÃO SE ABRIU E UM OUTRO PACIENTE ENTROU.
"Seu nome era Luis Lachman. Ele também estava internado, porém sabia que era essencial fugir dali.
Disse que estavam fazendo experiências em nós, que mediam a nossa resistência a dor.
Que eles estavam tentando potencializar a nossa genética.
Que se divertiam misturando substâncias.
Que esses eram os gritos que se escutavam na noite.
E no pior dos casos...
Essa noite senti a necessidade de chorar a perda da minha sanidade. Kirlian tinha ficado com ela.
No dia seguinte Lachman se sentou ao meu lado na janela.
Disse que seu nome era realmente Lachman, mas esse não era o seu corpo, ele estava paralisado como eu no quarto ao lado do meu.
Ele me disse que eles nos injetaram com algo que tinha um efeito adverso que não o perceberam.
Ele disse que tínhamos a habilidade de conversar telepaticamente, e tomar corpos com mentes danificadas.
Íamos manipular outras mentes para carregar nossos corpos e fugir de Kirlian.
Essa noite os gritos foram piores que nunca. Talvez Lachman tenha razão, talvez eles estejam fazendo experiências conosco.
Talvez podíamos de fato manipular outros corpos, ou talvez eu estava ficando tão louco quanto ele.
Seja como for... A clínica era a culpada.
Os meses seguintes foram de treinamento, Lachman e eu compartilhamos o corpo do substituto para aprender a controlá-lo.
Com o tempo Lachman parou de se comunicar comigo. O levaram ao limite... O assassinaram.
Eu ia ter que fugir sozinho, e em breve."
ALGUMAS NOITES DEPOIS BILDER COMEÇOU SUA FUGA, ELE TOMOU O CORPO DE UM DOS ENFERMEIROS NO QUARTO ANDAR.
"Eu estava no andar errado, eu não tinha muito tempo, estavam cada vez mais perto, precisava descer dois andares e precisava fazê-lo rápido.
Porém...Cheguei tarde.
Preciso da sua ajuda, preciso da sua ajuda por favor..."
Continua aí?
Acredito que perdemos o sinal. Bilder?
"Quem está aí?"
Você está ao vivo na Frequência Kirlian, a noite toda em todas as noites.
"Tivemos um problema com um dos nossos pacientes.
Eu peço desculpas."
Estávamos falando com o senhor Bilder...
Ele ainda está por aí?
"Não existe nenhum senhor Bilder aqui."
Uma mensagem de ânimo para todos os ''senhores Bilder'' lá fora caso vocês nos escutem: Os estamos esperando, sabemos que vão conseguir.
Precisamos de você aqui fora.
A noite do cometa está chegando.
No próximo bloco, a moda dos videogames chegou finalmente a Kirlian, e já causou seis vítimas fatais.
São realmente perigosos ? Ou estamos os julgando mal?
Voltamos em breve.
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